Um fato difícil
"Eu acho que é mais egoísta ter filhos do que não ter."
(Do filme, O Jantar)
Esse filme me mostra como a maioria das pessoas que tem filhos não deveria ter por não saber educar. Boa parte não hesitaria em ser injusta, desumana e até assassina para proteger um filho.
A maioria das pessoas procura transmitir na teoria ensinamentos considerados nobres, elevados, valores morais, exemplos aparetemente impecáveis, porém, se tais ensinamentos forem colocados à prova, quando se está em jogo garantir a sobrevivência de um filho, essas pessoas falham miseravelmente ao serem chamadas a colocar em prática os valores morais que passaram. Na ânsia injusta e insana de proteger um filho/a família, a maioria das pessoas é capaz de compactuar com crimes que elas mesmas já devem ter criticado severavamente quando praticados por outras pessoas, acobertam ou até cometem atrocidades com o intuito de proteger seus filhos das consequências dos próprios atos, não parando para pensar no que estão transmitindo, nem percebem que podem estar ensinando seus filhos a serem pais ruins, filhos ruins, pessoas ruins, o que me leva a crer que a maioria não sabe educar de verdade seus filhos.
Não posso negar que sinto certo receio de quem tem filhos por acreditar que grande parte dessas pessoas deve ser capaz de tudo por um filho: além de lutar pela propria sobrevivência tem que lutar também pela sobrevivência de um filho, o que pode ter um lado bom e outro ruim. Entendo que todos nós temos um extinto de sobrevivência que pode nos levar a cometer crimes, apesar de não acreditar que todos seríamos capazes de tudo para garantir nossa existência, mas no caso da pessoa que tem filhos acredito que o "capaz de tudo" é mais preponderante; além de possuir o extinto natural de sobrevivência a pessoa que tem filhos também tem o extinto de proteger os filhos acima de tudo, o que transforma uma simples possibilidade de cometer crimes em uma realidade concreta, com motivos, incentivos maiores. Não importa se para garantir que um filho fique protegido a pessoa tenha que cometer crimes, ser corrupta, leniente, permissiva, contraditória, desumana, injusta, sem moral... por um filho tudo se justifica, inclusive até o sacrifício da própria sobrevivência em prol da sobrevivência do filho, aquele que veio de você e que provavelmente vai te perpetuar na espécie. E ainda há quem fale do egoísmo de quem não tem e não deseja ter filhos.
O que me faz questionar uma antiga crença minha: será mesmo que aprendemos a ser melhores com a maternidade/a paternidade ou são coisas superestimadas na nossa sociedade? Quando não temos filhos, coisas como a violência, o crime são encaradas de forma mais remota por nós no sentido de que muito dificilmente as cometeríamos, as cogitamos como algo mais distante ou até mesmo impensado, mas a partir do momento em que temos filhos o que seria uma simples possibilidade remota passa a ser uma realidade mais próxima, algo a ser considerado, onde a hesitação é menor, praticamente nula. Então, será que nos tornamos de fato melhores com a maternidade/a paternidade? Depende de até onde cada um é capaz de ir por um filho, acredito que a maioria não pensaria duas vezes, acima de tudo o bem-estar, a segurança de um filho. Somos contraditórios por natureza, e nos tornamos mais contraditórios ainda quando nos tornamos pais. Em circunstâncias normais, educamos, passamos para os filhos bons ensinamentos, porém, se for preciso, passamos também por cima desses valores caso a vida de um filho esteja em jogo.
Estou com o Machado de Assis: "Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria."
Pena que nem todos têm consciência das próprias misérias a ponto de não ter filhos, pelo contrário, as pessoas são pressionadas a tê-los, não se perguntam se realmente querem, se têm vocação, se têm maturidade para essa grande empreitada. Eis aí a tragédia.
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