Convivência forçada

Se odiavam e eram obrigados a viver sob o mesmo teto. Uma daquelas ironias crueis que a vida nos impõe com o intuito, talvez, de testar nossa paciência, ou rir muito na nossa cara. O castigo surge justamente na forma daquilo que mais procuramos evitar e um sempre evitou o outro. E lá estavam os dois, sem afinidade alguma, tendo que conviver diariamente.

Na época distante em que as coisas eram boas, cada um seguia para o lado de suas respectivas afinidades, o que aumentava e muito o abismo entre os dois mas também trazia o alívio de se evitarem. E pensar que lá na frente, sem mais o refúgio do afeto e da afinidade a outras pessoas, ambos acabariam sozinhos numa casa, condenados a uma convivência prolongada que nenhum dos dois queria (pelo contrário, ambos já estavam fartos de conviver), num abismo tão grande ou maior do que o do passado.
Atualmente atrapalhavam o sonho de vida um do outro. Não se viam. Não se falavam. Enfim, se evitavam. Coisas que já faziam antes e que ficaram mais intensificadas agora.

Não é de todo verdade que se odiavam. A verdade é que nunca se amaram, apesar do parentesco eram pessoas completamente diferentes, sem nenhum resquício de amizade, dois mundos de uma disparidade astronômica, irreconciliável, abismal. Nunca se amaram, apenas se toleravam por força das circunstâncias, leia-se, necessidades.
E os anos passavam, um ansiando pela partida (ausência) do outro para enfim se livrarem dessa convivência forçada que nunca fez nem nunca fará bem a nenhum dos dois.

Eram duas naturezas distintas, repito, sem afinidade uma pela outra, a melhor e única solução para naturezas assim é a distância definitiva, somente distantes poderiam vislumbrar um pouco de paz, e quem sabe até serem finalmente felizes longe um do outro.

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