Amar somente não basta
Como se o amor fosse só flores, alegria constante, felicidade na vida. As agruras do amor não são muito cantadas, parece que basta a pessoa amar para que todos a considerem feliz.
Não, não é assim. Amor também é sofrimento, angústia, agonia, dor. Amor só é feliz quando aquele que ama encontra correspondência, se permite amar e ser amado, mas ainda assim, é passível de sofrer.
Porém, nem todos têm a boa sorte da correspondência, há os que são obrigados a calar, a suprimir dentro de si um afeto que a todo instante se faz lembrar, que tem ímpetos de se expandir, de gritar, de aparecer; há momentos em que o amor não se conforma e se revolta contra a recusa, como um tirano, quer impor sua vontade, mas então vem a razão em seu auxílio, o socorre de seu desvario e o coloca no eixo, o chama a encarar com coragem o irremediável, lhe mostrando o impossível da realidade que não é, nem pode ser como esse amor recusado gostaria que fosse.
A razão o exorta a ser frio, ele treme, vacila a princípio, diz que não consegue, é puro amor, e somente isso consegue ser; porém, logo pondera, ao ter em troca sempre indiferença e recusa algo morre dentro dele, definha aos poucos, então sem perceber, vai adquirindo a frieza que a razão aconselhou e um pouco de tristeza também.
Com o tempo o amor vai ficando distante, tem seu ímpeto sofreado, todo o franco entusiasmo do início, toda a ingênua e intensa alegria de que era feito esmorecem, se sobrou um pouco que seja daquele amor do começo cheio de ilusões e esperanças nada mais vem à tona, ama agora calado, em silêncio, sente pejo de seus arroubos de outros tempos e secretamente esperançoso aguarda a chegada do dia de sua liberdade, porque sabe que um dia ele, o amor, há de passar.
Não basta amar e se julgar feliz por isso. É preciso, indispensável até, ser recíproco, ser amado, se permitir ser, assim como se permitir ao amor.
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